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Mato Grosso

Cabo aluga apartamento para escutas clandestinas no Centro de Cuiabá

Número de telefone da esposa de Correa também consta na lista de grampeados

O apartamento no edifício Master Center, na rua Desembargador Ferreira Mendes, nas proximidades do morro da Caixa D´Água, em Cuiabá, foi alugado em nome do cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Ferreira, que atualmente está preso. No local, teriam sido realizadas as interceptações telefônicas ilegais, conforme depoimento da sargento Andréa Pereira de Moura Cardoso, que assumiu ter atuado nas quebras de sigilo irregulares.

O cabo teria alugado um apartamento no primeiro andar do edifício Master Center, em agosto de 2014. No período, ele teria iniciado as interceptações telefônicas ilegais, com a utilização de computadores completos e fones de ouvidos, além de diversos telefones celulares acoplados a um notebook.

Gerson teria alugado o local até fevereiro de 2015, quando ele teria levado as interceptações ilegais para o sexto andar do mesmo edifício. Nesta época, a sargento Andréa passou a frequentar o apartamento, pois passou a ser uma das responsáveis por operar os grampos criminosos.

Em depoimento à Corregedoria da Polícia Militar do Estado, Andréa confessou ter participado do esquema, porém negou que tivesse conhecimento de que se tratava de interceptações ilegais. Ela explicou que foi orientada pelo secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Benedito Siqueira Júnior, então comandante do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), a procurar o coronel Zaqueu Barbosa na sede do Comando Geral, "pois teria um serviço no setor de inteligência na interceptação telefônica".

Segundo Andréa Cardoso, após alguns dias, Zaqueu lhe telefonou e mandou procurar, na sede do comando geral, o cabo Gerson Luiz Ferreira Correa Junior, que seria “o responsável em explicar como seria o serviço porque teria muito conhecimento nessa área". Os dois teriam se encontrado na sala do coronel, onde foi explicado que ela ouviria policiais militares suspeitos de envolvimentos em crimes.

Conforme o depoimento da sargento, a partir de então, ela teria começado a atuar na sala do sexto andar do edifício Master Center, onde fazia interceptações telefônicas. Além dela, Andréa contou que mais outros dois membros da PM também participavam do esquema. A mulher garantiu, após revelar o esquema, que cumpriu ordens dos superiores, "não havendo nada de ilegal em suas ações, uma vez que não imaginava que as interceptações eram ilícitas".

O cabo teria alugado o apartamento no sexto andar até junho de 2015, período no qual teria orientado os policiais militares que atuavam nas escutas ilegais a realizarem o serviço em suas residências. A informação consta também no depoimento da sargento, que revelou que participou das escutas ilegais até setembro de 2015, quando encerrou o serviço que fazia em sua residência.

Correa Júnior prestou depoimento por cerca de seis horas na tarde de ontem a Corregedoria da Polícia Militar. Ele deu informações importantes, mas isentou os superiores de irregularidades.

FIADORA E GRAMPEADA

Em novembro do mesmo ano, Andréa foi nomeada na Casa Militar. Durante o período em que alugou os dois apartamentos no edifício Master Center, o cabo Gerson colocou sua esposa, Elisangela Medeiros de Oliveira, como fiadora do imóvel.

O nome da própria mulher do PM está entre os que foram grampeados no esquema de interceptações ilegais, conforme lista das interceptações ilegais, encaminhada pelo promotor de Justiça Mauro Zaque à Procuradoria Geral da República (PGR). Na decisão judicial da comarca de Cáceres, consta a autorização judicial para interceptar o "Capanga Fazenda Grendene" com o número de telefone usado pela mulher e que hoje se encontra desativo. O documento está anexado à denúncia sobre os grampos ilegais no Estado.

De acordo com a denúncia encaminhada por Mauro Zaque à PGR, diversas figuras do Estado foram interceptadas ilegalmente desde 2014. Teriam sido alvos da irregularidade políticos com mandatos, assessores, advogados, jornalistas, policiais, entre outros.

A denúncia aponta que os grampos eram concedidos por meio de “barriga de aluguel”, no qual o Núcleo de Inteligência da Polícia Militar solicitava interceptações de eventuais criminosos – no caso, uma quadrilha de tráfico de drogas e, posteriormente de assaltantes – e incluía os nomes de outros alvos, que não tinham relação com os crimes.

Na denúncia encaminhada por Zaque, é relatado que os grampos eram solicitados a um juiz de Cáceres pelo Ministério Público Estadual, com base em pedidos da Inteligência da PM. No entanto, outros magistrados do Estado também teriam concedido quebras de sigilo ilegais, sem perceber que entre eles havia terminais sem relação com o crime.

De acordo com informações de bastidores, membros do alto escalão do Executivo Estadual estariam envolvidos no esquema das interceptações ilegais. Paulo Taques é apontado como um dos líderes dos pedidos irregulares de quebra de sigilos. No entanto, ele nega qualquer participação na fraude.

O esquema gerou repercussão nacional e foi alvo de reportagem do programa “Fantástico”, da Rede Globo. O caso gerou imbróglios políticos. Logo que a situação veio à tona, Paulo Taques deixou o cargo de secretário-chefe da Casa Civil. Apesar de as notícias apontarem que o primo pudesse estar ligado ao esquema, o governador Pedro Taques (PSDB) afirmou que o ex-membro de seu staff deixou a função para voltar à advocacia. O ex-secretário tornou-se o responsável pela defesa do chefe do Executivo Estadual no caso das interceptações telefônicas criminosas.

Na denúncia encaminhada por Zaque, o promotor de Justiça afirmou que Taques cometeu o crime de prevaricação, por saber do esquema criminoso e não fazer nada para impedi-lo. O governador, porém, negou que soubesse das escutas ilegais que eram autorizadas na comarca de Cáceres.

Em 16 de maio, o tucano protocolou denúncia contra Zaque no Ministério Público Estadual, na PGR e no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Nos documentos, o chefe do Executivo estadual acusou o promotor de cometer os crimes de falsificação de documento público, prevaricação, em razão de ter deixado de praticar ato de ofício, e denunciação caluniosa.

No dia 23 de maio, o juiz Marcos Faleiros da Silva, da Vara Especializada em Crimes Militares da Capital, decretou a prisão preventiva militar do ex-comandante geral da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa, e do cabo Gerson Luiz Ferreira Correia Júnior. Os dois são acusados de participarem do esquema criminoso.

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