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CARAVANA DA TRANSFORMAÇÃO: Idoso denuncia ter perdido a visão em evento do Estado

Aí, aconteceu de eu procurar um socorro. Como ninguém me dava atenção aqui, fui para São Paulo, mas eu cheguei lá e eles me disseram que não tinha mais jeito não.

O eletricista aposentado Elizeu Gomes da Silva, de 77 anos, é mais uma vítima de possíveis erros médicos cometidos durante o mutirão de cirurgias de cataratas realizado pela Caravana da Transformação, do Governo do Estado, que aconteceu entre os dias 3 e 17 de dezembro do ano passado em Rondonópolis. Em entrevista exclusiva ao Jornal A TRIBUNA, que vem acompanhando desde então várias denúncias de erros médicos no evento, o idoso disse ontem que perdeu completamente a visão do olho que operou e reclama de dores constantes no órgão operado.


Segundo o mesmo, ele teria realizado a cirurgia no dia 5 de dezembro e, desde que deixou a carreta que funcionava como centro cirúrgico na Caravana da Transformação, tem sentido dores constantes no local da operação, o que o leva a suspeitar de que a equipe médica que realizou o procedimento tenha errado na cirurgia e que os mesmos tinham consciência disso, mas nada lhe disseram no momento. “Desde que eu deitei na cama lá e fiz a cirurgia, eu saí de lá com dor e tenho dor até hoje. Sarar perfeitamente, nunca sarou. Quanto eu sinto que começa a melhorar, piora tudo de novo. Isso é constante! Eu vi que tinha alguma coisa errada, pois as outras pessoas que fizeram a cirurgia saíam das carretas rindo, tranquilas. Já eu sentindo dor o tempo inteiro. Outra coisa que eu vi de errado é que para mim me entregaram alguns colírios e uma receita. O resto dos pacientes não tinha receita nenhuma. Eu desconfiei disso na hora, mas a gente não é especialista em questões médicas, então fiquei quieto”, afirmou o idoso.


Ainda de acordo com o aposentado, ele foi um dos primeiros pacientes que passou pela cirurgia na Caravana, sendo que operou o olho direito para a retirada de uma catarata e colocação de uma lente corretiva, mas a cirurgia não foi bem-sucedida e acabou por perder completamente a visão do olho operado. “Nós voltamos no outro dia na onde mandaram a gente ir, na carreta que ficava na Escola Renilda (Silva Moraes), mas o pessoal olhou meu olho e disse que não havia nada errado com ele. Só me passaram remédio para dor e mais nada. Na hora, eu aceitei isso. Como que eu não vou aceitar uma coisa que eu não entendo nada a respeito? O que eu podia dizer na hora?”, continuou.


“Aí, aconteceu de eu procurar um socorro. Como ninguém me dava atenção aqui, fui para São Paulo, mas eu cheguei lá e eles me disseram que não tinha mais jeito não. Que eu já estava cego do olho”, disse o idoso, emocionado por lembrar que antes da cirurgia tinha dificuldades, mas ainda conseguia enxergar bem e não sentia as dores lancinantes que sente desde que fez a cirurgia.
Com a ajuda financeira dos filhos, ele foi com a esposa Renilda Modesto dos Santos para a cidade de São Paulo atrás de tratamento para tentar reverter situação e conter as dores que sente até hoje, mas, apesar do esforço e de ter feito outra cirurgia para tentar corrigir o problema na vista, a conclusão dos médicos paulistas que o atenderam e o operaram novamente foi de que o quadro já estava irreversível. “Lá, os médicos pediram muitos exames, fizeram um raio-x do olho do meu marido e a princípio não encontraram a lente (corretiva) que deveria estar lá. Mas nós insistimos que tinha sido colocada uma lente no olho dele e só quando resolveram fazer uma nova cirurgia é que encontraram a lente, mas muito para trás de onde deveria estar, para dentro do olho”, contou a esposa do aposentado. “No dia da cirurgia, aqui na Caravana, ele fez tudo normal mas, na hora que ele saiu de lá, eu percebi que tinha algo diferente, pois todos receberam um kit com um colírio e um óculos. Já ele recebeu o kit e uma receita de outro colírio. Assim que ele chegou em casa, começou aquela dor terrível, descontrolada, e começou a vomitar. Aí eu corri com ele para UPA e lá ele foi medicado, mas nada cortava a dor e aquele vômito”, contou a esposa do aposentado.


Ela ainda conta que no dia seguinte a cirurgia, 6 de dezembro, ela teria que voltar com o esposo operado na Escola Renilda para uma revisão, mas o esposo permanecia hospitalizado na unidade médica, com dores e vômitos. “Ele passou a noite inteira com dor e vomitando. Nada parava esse vômito e a dor. Quando a dor diminuiu um pouco, eu peguei um táxi e corri com ele para o Renilda e lá eu pedi para passar direto com ele pela fila, pois o caso dele não dava de esperar. Aí vieram vários médicos e olharam o olho dele, mas disseram que estava normal, que o que ele estava sentindo não tinha nada ver com a cirurgia. Aí é que está o problema, pois, se viram algum problema, eles não nos falaram”, continuou Dona Renilda.


De volta para casa, a dor e o vômito continuaram e a esposa voltou com o idoso para a UPA, onde o mesmo foi medicado novamente e aconselhado a voltar na carreta da Caravana da Transformação. “Nós fomos lá novamente e ele saiu de lá com mais uma receita e ouvimos de novo que estava tudo bem. Aí, quando nós entendemos que aqui não havia a quem recorrer aqui, nós levamos ele para São Paulo, e lá foi uma luta, pois eles (médicos) me diziam para voltar. ‘Vocês deviam ficar lá’, eles diziam. Até que nós encontramos uma clínica particular, que teve dó dele e nos atendeu. Eles ficaram horrorizados com o que viram. Disseram que os médicos foram aonde não deviam ir, ou seja, mexeram onde não deviam, onde não precisava e isso o deixou desse jeito, sem visão nenhuma no olho que operou”, disse.


Outro fator agravante é que depois que perdeu a visão do olho direito, o idoso começou a ter a visão do olho esquerdo diminuída. “O médico que operou e tirou a lente que estava no fundo do olho disse que o outro médico que fez isso com ele não tem condições de operar, que ele não pode operar ninguém”, contou, alarmada. Já de volta a Rondonópolis, o casal tem peregrinado atrás de assistência do poder público, mas nada conseguiu até agora. “Nós fomos na Secretaria de Saúde e eles querem que a gente vá para Cuiabá, mas eu não sei o que vou fazer lá, pois o que eles fazem lá pode ser feito aqui. Eu não estou querendo ir”, disse Elizeu Gomes da Silva.


Agora, a família pretende procurar tratamento médico que ajude a eliminar a dor que o idoso sente no olho operado, mas também está contratando advogado para cobrar uma indenização financeira do Governo do Estado, já que teve muitas despesas com as consequências do possível erro médico. “Nós tivemos que pegar dinheiro de um, de outro. Uma filha vendeu uma coisa, outro filho arrumou dinheiro não sei de onde. Mas nós não temos condições, precisamos continuar o tratamento dele. Mas com que dinheiro? Ele era um homem que trabalhava, que era muito ativo. Agora, está desse jeito”, pontuou Renilda dos Santos.


Já o idoso faz questão de ressaltar que a família de maneira nenhuma pretende tirar proveito financeiro da situação. “O que eu mais quero agora é parar de sentir dor. Eu não aguento mais… é todo dia, não tenho folga dessa dor. Reversão eu sei que já não tem mais, mas eu quero por enquanto é só parar de sentir dor”, concluiu.


Esse não é o primeiro caso registrado durante a Caravana da Transformação do Governo do Estado, que aconteceu em Rondonópolis, quando foram realizadas 7.266 consultas e 6.982 cirurgias oftalmológicas. Anteriormente, o aposentado Getúlio Vieira da Silva, de 68 anos, já havia denunciado um possível erro médico, que só foi revertido porque o senhor procurou ajuda em uma clínica particular, que refez a cirurgia e corrigiu o erro, evitando que o mesmo perdesse a visão.


Além disso, um médico particular da cidade – Marcelo Miranda – denunciou ao Jornal A TRIBUNA o atendimento de vários pacientes que recorreram à rede particular para correção de problemas após cirurgias no mutirão.

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