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Delegada revela que ex-secretário pediu para grampear a ex-amante em MT

Segundo Alana Cardoso, dada a urgência e sigilo do caso, interceptações ocorreram em investigação de crimes em presídios do Estado

O ex-secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, teria sido o responsável por solicitar as interceptações telefônicas ilegais contra sua ex-amante, a publicitária Tatiana Sangalli Padilha, e sua ex-assessora, Caroline Mariano dos Santos. De acordo com a delegada Alana Cardoso, a informação teria sido passada pela ex-secretária-adjunta de Inteligência da Secretaria Estadual de Segurança Pública, delegada Alessandra Saturnino, para justificar os grampos.

Em depoimento ao secretário estadual de Segurança Pública, Rogers Jarbas, a delegada Alana Cardoso revelou como foram feitas as interceptações das duas mulheres ligadas ao ex-secretário. Os esclarecimentos de Alana foram feitos após a juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado, encaminhar ofício à Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça, no qual relatou que havia, ao menos, dois casos de números interceptados ilegalmente por meio de pedidos concedidos na Vara, no âmbito na “Operação Forti”, que nem chegou a ser deflagrada.

Os números interceptados ilegalmente, conforme a magistrada, pertenciam a Tatiana Sangalli e a Caroline Mariano. No ofício encaminhado por Selma Arruda, ela mencionou que os pedidos para interceptar as mulheres foram feitos por Alana, que na época atuava no setor de Inteligência da Policia Judiciária Civil.

De acordo com a delegada, os pedidos para as interceptações ilegais foram feitos pela ex-secretária-adjunta de Inteligência da Sesp, delegada Alessandra Saturnino, que teria dito que as quebras de sigilo haviam sido solicitadas pelo então secretário-chefe da Casa Civil, que teria alegado que o governador Pedro Taques (PSDB) estaria sendo alvo de uma suposta trama criminosa.

"Aproximadamente no mês de março [de 2015], não se recordando ao certo, a delegada foi chamada à Secretaria Adjunta de Inteligência pela então secretária, Dra. Alessandra Saturnino, a qual lhe relatou que havia uma ameaça ao governador Pedro Taques e que precisava que fosse apurado pela inteligência da maneira mais discreta possível, dada a sensibilidade", detalha trecho do depoimento de Alana.

Ela comentou que a delegada Alessandra Saturnino contou que Paulo Taques revelou que tinha uma amante que estaria mantendo contato com o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro. Por conta do envolvimento, Taques teria dito que suspeitava que Sangali estaria tramando contra a vida do governador.

“Conforme a secretária-adjunta, o próprio Paulo Taques havia relatado o fato e pedido as providências necessárias para apuração. Também foi informado que a secretária direta de Paulo Taques [Caroline Mariano] estaria mantendo contato com a suposta amante dele e com outras pessoas suspeitas e que temia que ela, conhecedora de toda sua rotina e de sua família, pudesse passar informações que colocassem em risco a segurança do secretário Paulo Taques e do próprio governador”, relatou Alana.

Paulo Taques teria pedido que o procedimento de investigação fosse feito com urgência e apontou dois números que seriam pertencentes às duas mulheres. “Dada a urgência do fato, dada notícia de que a investigada estaria indo visitar João Arcanjo naqueles dias, e que como não havia nenhum documento que pudesse subsidiar a instauração de uma medida cautelar, dada a urgência foi ponderada a possibilidade de inserir os dois números na Operação Forti, cuja prorrogação estava sendo promovida, até que se produzisse o relatório necessário para instaurar o inquérito e representar ao Juízo especificamente sobre o caso”, revelou.

A inserção dos ramais teria sido discutida na Sesp pelas delegadas Alana e Alessandra, que concordaram em abrir a investigação sigilosa. Desta forma, os números da ex-amante e da ex-assessora de Paulo Taques foram incluídos no segundo pedido de interceptações da “Operação Forti”, deflagrada em fevereiro de 2015, liderada pela Inteligência da Policia Judiciária Civil. O procedimento apurava crimes ligados a membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho de Mato Grosso (CVMT). Nos pedidos, Tatiana era denominada “Dama Lora” e Caroline era “Amiguinha”.

CAPTAÇÃO DOS ÁUDIOS

Os áudios captados por meio das interceptações teriam sido incluídos em um procedimento separado. No sistema Guardião, a operação foi batizada como “Pequi”, um apêndice da Forti. “Os áudios foram ouvidos pelo analista Rafael Maneguini, ligado à Sesp. Em paralelo, foi produzido um relatório técnico para instauração de inquérito e para dar início a uma operação de investigação, deflagrada pelo GCCO, em uma operação chamada Querubin”.

Alana contou que ela e a ex-adjunta de Inteligência da Sesp conversaram com o delegado Flávio Stringueta, então titular da GCCO, sobre a importância de instaurar procedimento para apurar a suposta ameaça ao governador. Desta forma, Stringueta instaurou a ”Operação Querubin”, na qual foram solicitadas as quebras de sigilo, desta vez formalmente e com os nomes reais de Tatiana e Caroline. Alana ouviu os áudios de Sangali e Flávio os de Caroline. O procedimento, porém, foi arquivado por falta de provas.

"Durante o período que a declarante acompanhou a investigada, não houve nenhum áudio relevante e que também soube que não foi confirmada a intenção de atentar contra o governador e nem contra o secretário Paulo Taques, motivo pelo qual foi encerrada a operação e pedido o arquivamento do inquérito”.

No depoimento concedido ao secretário, Alana garantiu que não houve qualquer irregularidade nos áudios captados na Forti nem na Querubin. “A declarante salienta que não houve qualquer uso inadequado dos áudios captados no período inicial na operação Forti, que se tratava de ameaça à vida de Pedro Taques nem do secretário e que como responsável pela inteligência da PJC na época, a declarante acredita que realizou o seu dever funcional”.

”Que acredita que não havia na ocasião meio mais eficiente de garantir a segurança do governador e do secretário. Essa operação foi considerada altamente sigilosa e por isso não foi dada ciência a nenhum servidor da Diretoria de Inteligência”, completou.

Os áudios captados na “Pequi” não foram encaminhados à Justiça, conforme informou a juíza Selma Arruda. A magistrada questionou o fato de os itens não terem obedecido determinação judicial, que decreta que todos as provas colhidas devem ser encaminhadas à Vara responsável por conceder a interceptação.

GRAMPOS ILEGAIS

Em janeiro, o promotor de Justiça, Mauro Zaque, denunciou o esquema de interceptações ilegais à Procuradoria Geral da República (PGR). Segundo ele, diversas figuras do Estado foram grampeadas ilegalmente desde 2014. Teriam sido alvos da irregularidade políticos com mandatos, assessores, advogados, jornalistas, policiais, entre outros.

A denúncia aponta que os grampos eram concedidos por meio de “barriga de aluguel”, no qual o Núcleo de Inteligência da Polícia Militar solicitava interceptações de eventuais criminosos – no caso, uma quadrilha de tráfico de drogas e, posteriormente de assaltantes – e incluía os nomes de outros alvos, que não tinham relação com os crimes.

Na denúncia encaminhada por Zaque, é relatado que os grampos eram solicitados a um juiz de Cáceres pelo Ministério Público Estadual, com base em pedidos da Inteligência da PM. No entanto, outros magistrados do Estado também teriam concedido quebras de sigilo ilegais, sem perceber que entre eles havia terminais sem relação com o crime.

De acordo com informações de bastidores, membros do alto escalão do Executivo Estadual estariam envolvidos no esquema das interceptações ilegais. Paulo Taques é apontado como um dos líderes dos pedidos irregulares de quebra de sigilos. No entanto, ele nega qualquer participação na fraude.

O esquema gerou repercussão nacional e foi alvo de reportagem do programa “Fantástico”, da Rede Globo. O caso gerou imbróglios políticos. Logo que a situação veio à tona, Paulo Taques deixou o cargo de secretário-chefe da Casa Civil. Apesar de as notícias apontarem que o primo pudesse estar ligado ao esquema, o governador Pedro Taques (PSDB) afirmou que o ex-membro de seu staff deixou a função para voltar à advocacia. O ex-secretário tornou-se o responsável pela defesa do chefe do Executivo Estadual no caso das interceptações telefônicas criminosas.

Na denúncia encaminhada por Zaque, o promotor de Justiça afirmou que Taques cometeu o crime de prevaricação, por saber do esquema criminoso e não fazer nada para impedi-lo. O governador, porém, negou que soubesse das escutas ilegais que eram autorizadas na comarca de Cáceres.

Em 16 de maio, o tucano protocolou denúncia contra Zaque no Ministério Público Estadual, na PGR e no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Nos documentos, o chefe do Executivo estadual acusou o promotor de cometer os crimes de falsificação de documento público, prevaricação, em razão de ter deixado de praticar ato de ofício, e denunciação caluniosa.

No dia 23 de maio, o juiz Marcos Faleiros da Silva, da Vara Especializada em Crimes Militares da Capital, decretou a prisão preventiva militar do ex- comandante geral da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa, e do cabo Gerson Luiz Ferreira Correia Júnior. Os dois são acusados de participarem do esquema criminoso.

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