Mato Grosso
Sócio da EIG diz ter pago R$ 2,6 mi de propina a Paulo Taques
José Gonçalves Neto contou que valor era para que Estado mantivesse a contratação da empresa
O empresário José Ferreira Gonçalves Neto, sócio da EIG Mercados Ltda., afirmou ter pago R$ 2,6 milhões de propina ao ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, primo do governador Pedro Taques (PSDB), para manter o contrato milionário da empresa com o Detran-MT.
O depoimento dado ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) embasou a Operação Bônus, 2ª fase da Operação Bereré, deflagrada nesta quarta-feira (09), e consta na decisão do desembargador José Zuquim Nogueira.
A operação resultou na prisão de Paulo Taques e do seu sócio e irmão Pedro Jorge Taques. Também foram presos o deputado estadual Mauro Savi (DEM); o ex-diretor-presidente da EIG Mercados, Valter José Kobori; e os empresários Roque Anildo Reinheimer e Claudemir Pereira dos Santos, sócios da Santos Treinamento.
A operação apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 27,7 milhões, que operou de 2009 a 2015.
Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran retornava como propina a políticos, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
Propina e bônus
Em seu interrogatório, José Neto confessou ter autorizado o executivo José Kobori a negociar a continuidade do pagamento de propina - que já existia na época do ex-governador Silval Barbosa – com a atual gestão do Governo do Estado.
De acordo com o empresário, antes mesmo do resultado das eleições de 2014, Kobori já havia negociado a propina para a manutenção do contrato com Paulo Taques – que é primo do governador Pedro Taques (PSDB).
José Neto relatou ao Gaeco que Kobori sugeriu que a EIG pagasse a propina por meio de um contrato de prestação de serviços advocatícios com o escritório de Paulo Taques, que também tem como sócio o Jorge Taques, irmão de Paulo e amigo de infância de Kobori.
O contrato foi firmado no dia 6 de outubro de 2014, um dia após o resultado da eleição que consagrou Pedro Taques como o próximo governador de Mato Grosso.
Apesar disso, o empresário disse que optou por não pagar a propina por meio do contrato e sim através de pagamentos de “bônus” a Kobori, então presidente da EIG, que por sua vez repassaria os valores a Paulo Taques, “tendo restado acertado que o pagamento seria feito anualmente”.
“Segundo o interrogado, em dezembro de 2014, ele efetuou o primeiro pagamento de propina para Paulo Cesar Zamar Taques através de uma transferência no valor de R$ 1,4 milhão para Valter Kobori, fato que consta registrado no Relatório Técnico de análise bancária n. 25/2017 elaborado pela Polícia Judiciária Civil”.
“Consta também no interrogatório de José Ferreira Gonçalves Neto que no ano de 2015 Valter José Kobori solicitou, em nome e para Paulo Cesar Zamar Taques, propina no valor de R$ 1.200.000,00, que foi pago através da EIG Mercados Ltda., em dez parcelas no ano de 2016. O período de análise bancária compreendido do relatório da Polícia Civil alcançou as movimentações bancárias até o mês de fevereiro de 2016, tendo sido constatadas estas transferências”.
No depoimento, José Neto disse que José Kobori, mesmo após ter sido dispensado da EIG, em agosto de 2016, avisou a ele que precisaria receber uma espécie de bônus de propina, “pois ele já havia assumido o compromisso com esse valor no Estado de Mato Grosso”.
“Após tal fato, com a cessação dos pagamentos de propina que era recebida através de Valter Kobori, Pedro Jorge Zamar Taques teria ligado para José Ferreira ‘pedindo para José Henrique manter Kobori na empresa, visto que 'tinha assunto pendente no Estado para resolver', e pedindo, também, para que José Henrique comparecesse em Cuiabá para conversar, deixando claro nessa conversa que Kobori estava alinhado com Pedro Zamar Taques e Paulo Taques nos pagamentos dos 'bônus'”.
Sócio confirma esquema
O empresário José Henrique Gonçalves, filho e sócio de José Neto na EIG, confirmou a versão.
Ele disse que após Kobori ser desligado da empresa, o executivo o apresentou ao advogado Pedro Jorge Taques em um restaurante de São Paulo.
Na ocasião, Jorge Taques deu a entender que seu irmão Paulo Taques era a única pessoa que poderia resolver a situação do contrato entre o Detran e a EIG e que apenas José Kobori poderia articular a situação com Paulo Taques, “dando a entender que seria necessário Kobori retornar para a empresa FDL/EIG".
De acordo com o Gaeco, uma conversa trazida por José Gonçalves na investigação mostrou que Jorge Taques trocou mensagens com uma funcionária da EIG sobre alguns pagamentos, onde o mesmo disse que “ em função dos últimos acontecimentos, me vi obrigado a recolher impostos de todos os valores recebidos do escritório do Dr. Daniel".
“Sobre esses "últimos acontecimentos" a que ele se refere, o Ministério Público ressalta que dizem respeito à presente investigação, ou seja, pelo fato de estar sendo investigado, ele precisaria produzir documentos que fizessem parecer serem legais as suas atividades relacionadas à EIG Mercados Ltda. decorrentes de ‘acordos verbais’, assim selados para atuação oculta, dada a sua ilicitude”.
“A jornada para a produção de documentos com a finalidade de arrumar urna explicação, para a entrada de valores oriundos da EIG Mercados Ltda. está também registrada na documentação apresentada por Pedro Jorge Zamar Taques, na qual consta contrato de prestação de serviços de advocacia com efeitos retroativos, conforme se extrai da cláusula sétima (fls. 4.165/4.168, vol. 21 do Inquérito Policial n. 38162/2013/TJMT)”.
Outra troca de mensagens entre Paulo Taques e a funcionária da EIG também comprovaria o encontro em São Paulo sobre a continuidade da propina.
“No mais, asseverou também José Henrique Ferreira Gonçalves que Valter José Kobori lhe enviou mensagem via aplicativo Whafssap, cujo conteúdo transcrito confirma as alegações”.
“Bônus”
A segunda fase da Operação Bereré, batizada de Bônus, é coordenada pelo Núcleo de Ações de Competência Originária (Naco/Criminal) e pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).
A ação apura um esquema que pode ter desviado R$ 27 milhões por meio de um contrato do Detran com a empresa EIG Mercados.
Na manhã desta quarta-feira (9) foram cumpridos mandados de prisão em Cuiabá e Brasília. São alvos: o deputado estadual Mauro Savi (DEM), o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, os empresários Roque Anildo Reinheimer e Claudemir Pereira dos Santos, proprietários da Santos Treinamento, empresa que, segundo as investigações, era usada para lavagem do dinheiro desviado do órgão.
Em Brasília (DF), os policiais prenderam o empresário José Kobori, ex-diretor-presidente da EIG Mercados, apontada pelo Gaeco como pivô do suposto esquema. Já o advogado Pedro Jorge Zamar Taques, irmão de Paulo Taques, apresentou ao Gaeco no final da manhã.
A operação é resultado da análise dos documentos apreendidos na primeira fase da Bereré, dos depoimentos prestados no inquérito policial e colaborações premiadas.
Página:
https://www.olharnoticias.com.br/noticia/mato-grosso/2018/05/10/scio-da-eig-diz-ter-pago-r-26-mi-de-propina-a-paulo-taques/3648.html