O ex-governador Silval Barbosa (PMDB) confirmou na tarde de hoje que irá depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instalada na Câmara de Vereadores de Cuiabá, para investigar o suposto recebimento de propina do prefeito Emanuel Pinheiro (PMDB) a chamada "CPI do Paletó". As declarações foram quando o ex-chefe do Executivo de Mato Grosso chegava à Controladoria-Geral do Estado (CGE) para prestar esclarecimentos sobre eventuais esquemas de corrupção durante sua gestão com cerca de 100 empresas.

O depoimento de Silval foi agendado para o dia 23 de fevereiro. “Vou contribuir em todas as instâncias. Com certeza vou na CPI porque eu tenho que atender a uma convocação da Câmara. Vou colaborar em todas as dúvidas e com certeza estarei lá”, garantiu.

Segundo Silval Barbosa, os alvos de sua delação devem responder aos orgãos de investigação e instâncias jurídicas. "Eu estou preocupado neste momento em colaborar com a Justiça. Em relatar todos os fatos. Não quero fazer calúnia de ninguém. Cada um assume a responsabilidade daquilo que foi praticado de irregular”, disse.

Silval também disse respeitar a intenção de Emanuel Pinheiro de pedir a anulação de sua colaboração premiada no Supremo Tribunal Federal. "Todo mundo tem o direito de defesa. Se ele achou que aquilo era uma estratégia para se defender, é um direito da assessoria jurídica dele”, assinalou.

O ex-governador disse também que não irá revelar mais detalhes sobre os depoimentos e processos dos quais faz parte na esfera jurídica e administrativa, pois segue uma orientação dos advogados. Ele pediu desculpas e disse que vai falar com a imprensa “quando chegar o momento”. “Em relação a esses processos até peço desculpa. É uma decisão minha de não falar agora seguindo orientação da parte jurídica. Vai chegar o momento de eu falar. Só que no momento tem que seguir a orientação jurídica”, disse.

CPI DO PALETÓ

Além de Silval, o ex-assessor Valdecir Cardoso, o ex-chefe de gabinete do ex-governador, Sílvio César Correa Araújo, e o ex-secretário de Indústria, Comércio e Mineração (Sicme-MT), Alan Zanatta, também foram convocados a depor. As oitivas foram marcadas para os dias 7, 16 e 21 de fevereiro, respectivamente.

O vereador Marcelo Bussiki (PSB), que preside a CPI, explicou na semana passada, porém, que a Câmara ainda realizaria a intimação de Valdeci e Zanatta. “Silvio César já foi intimado das datas das oitivas. Ele já tem conhecimento. Agora estamos buscando a intimação do senhor Alan Zanatta e do senhor Valdeci para que eles tenham conhecimento da data da oitiva na Câmara Municipal às 9h, aberta a toda a população e imprensa”, disse o vereador.

A Comissão investiga em que contexto o prefeito Emanuel Pinheiro – na ocasião, ainda deputado estadual na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (AL-MT) -, foi gravado por uma câmera oculta instalada por Sílvio César Corrêa em sua própria sala. Pinheiro recebeu maços em dinheiro vivo das mãos de Corrêa e colocou em seu terno. O episódio foi utilizado como “inspiração” para chamar as investigações na Câmara de “CPI do Paletó”.

De acordo com o depoimento de colaboração premiada de Silval Barbosa realizado junto a Procuradoria-Geral da República (PGR), os pagamentos eram uma espécie de “mensalinho” pagos aos deputados estaduais durante sua gestão (2010-2014) para obtenção de apoio do Poder Legislativo.

Já Alan Zanatta pode esclarecer um controverso episódio envolvendo Silvio Correa. No fim de agosto de 2017, o ex-secretário teve um encontro com o ex-chefe de gabinete de Silval e utilizou um gravador oculto para registrar a conversa. Nela, Zanatta tenta extrair uma declaração para tentar inocentar Emanuel Pinheiro do episódio.

Além de Bussiki, a CPI também conta com os vereadores Adevair Cabral (PSDB), relator, e Mário Nadaf (PV), membro titular. As imagens de Emanuel Pinheiro recebendo dinheiro vivo e colocando em seu terno foram veiculadas numa reportagem do Jornal Nacional exibida no dia 24 de agosto de 2017.