O custo de produção é maior que o valor recebido pelo produtor e a grande entrada de leite do Uruguai só piora a situação
Mais de mil produtores de leite iniciaram a semana reivindicando melhores políticas governamentais para fortalecer o segmento, que enfrenta uma das maiores crises das últimas décadas em decorrência do baixo preço recebido pelo litro do produto. O Manifesto S.O.S Leite aconteceu na segunda-feira (16/10), em Prata/MG, onde, junto ao ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Blairo Maggi, eles apresentaram reivindicações relativas a redução do volume de leite importado do Uruguai.
Em 2016, o Brasil foi o destino de 86% do leite em pó desnatado e de 72% do leite em pó integral exportado pelo Uruguai. Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Luiz Carlos Rodrigues, os produtores apresentaram ao ministro a grave situação da produção de leite no Brasil e pediram a regulamentação das importações de forma que o mercado interno não seja mais prejudicado.
"O custo de produção é maior que o valor recebido pelo produtor e a grande entrada de leite do Uruguai só piora a situação", diz Rodrigues. Enquanto o preço médio nacional pago ao produtor em setembro foi de R$1,13 (com vários Estados pagando menos de um real), o custo de produção está em torno de R$1,30. Hoje, o setor emprega mais de cinco milhões de pessoas.
Para o coordenador da Câmara de leite da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Vicente Nogueira, o ministro teve uma demonstração clara do quanto o setor está mobilizado na defesa de melhores condições para produção. "Ninguém deseja proibir totalmente as importações, mas esse mercado precisa ser organizado, ou seja, ter um volume mínimo e máximo para a entrada do leite do Uruguai para que o mercado interno não seja afetado.", ressalta Nogueira.
De acordo com ele, a pecuária leiteira passa pela maior crise já vivida. "Não adianta ter balde cheio e bolso vazio. Quando o produtor decidir cruzar os braços em razão de não ter mais condições de produzir o que será do país? Estamos preparados para ir à Brasília com milhares de produtores para entregar nosso pleito ao presidente Temer.", garante o representante da OCB.
Eduardo de Carvalho Pena, vice-presidente Faemg e presidente Comissão Técnica de Leite, lembra que essa é uma reivindicação feita pelo setor há mais de 10 anos. "Não queremos fechar as portas do mercado comercial na América do Sul, mas a importação precisa ser regulamentada.
Da mesma forma que para a Argentina existe uma cota em torno de 4.500 toneladas/mês, para o Uruguai também deve existir. Hoje, essa importação é predatória para os produtores brasileiros, principalmente Minas Gerais que é o maior produtor de leite do Brasil. Até o mês passado já tinha entrado mais de 100 mil toneladas de leite do Uruguai. É um número gigantesco, como se estivesse abrindo uma grande empresa no país.", diz Pena.
Os produtores ainda pedem que o governo brasileiro investigue se realmente há triangulação nas importações feitas do Uruguai, para que o leite da Europa entre no Brasil via Mercosul, sem ser tarifado. O ministro disse que o assunto é bastante complexo, que envolve mercado interno e externo. "Estive com o presidente Temer semana passada, reportando a ele o grau de dificuldade que temos no setor. Nosso desejo é ter uma cota com o Uruguai. Não reclamamos do volume, mas da forma como o leite entra no Brasil.
A culpa não é do Uruguai, mas sim dos importadores que entram e saem do mercado quando querem derrubando os preços no mercado interno. O presidente Temer fica um pouco inibido neste momento por ser também presidente do Mercosul, mas cabe a ele discutir isso dentro do Mercosul. A posição do Mapa será sempre em defesa do produtor." , disse Maggi, que suspendeu as importações do Uruguai este mês. Segundo ele, será difícil manter a medida por muito tempo, mas esta semana haverá uma vistoria no Uruguai para verificar se há realmente uma triangulação nas importações.
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