Entrada de imigrantes no Brasil caiu 23% em dois anos efeito da crise política e econômica diz estudo

Ministério da Justiça calcula que 1,06 milhão de estrangeiros vivam no país. Haitianos lideram ranking de estrangeiros, em segundo lugar estão bolivianos.
Entrada de imigrantes no Brasil caiu 23% em dois anos efeito da crise política e econômica diz estudo

Mais de 94 mil estrangeiros entraram no Brasil em 2016, de acordo com o relatório anual de inserção dos imigrantes no mercado de trabalho brasileiro, divulgado nesta quarta-feira (13) pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra). O número é 23% menor do que no auge das imigrações, em 2014, quando número total de entradas atingiu 122 mil pessoas.

A variação negativa é explicada pelo Observatório das Migrações como consequência da "crise econômica e política que o país atravessa". Isso contrapõe a alta da onda migratória entre os anos de 2010 e 2014, quando o "bom desempenho da economia" em detrimento da "crise econômica nos países capitalistas centrais" atraiu estrangeiros para o Brasil, afirmam os pesquisadores.

Do total de entradas registradas pelo Ministério da Justiça em 2016, 33,9% (31 mil) das pessoas se estabeleceram no país com a característica permanente, ou seja, com autorização de estadia e com permanência maior de dois anos.

Mas a maior parte dos imigrantes, 63,6% (59,8 mil) são estrangeiros com característica de temporários, aqueles com estadias de curta duração, geralmente para prestação de serviços.

Segundo o ministério, 690 mil pessoas estão no país de forma permanente e 359 mil temporariamente. Somam-se a estes números os chamados fronteiriços (14.551) e os não informados o que dá um total de quase 1,06 milhão de imigrantes vivendo no Brasil.

 Haitianos e bolivianos

Os haitianos são o principal grupo de imigrantes no Brasil nos últimos sete anos, em 2016 eles somavam quase 81 mil pessoas. Desde 2013 os haitianos são maioria no fluxo de migrantes. Em 2016 representavam 34,3% do total de entradas. Em segundo lugar estão os bolivianos que registram 60,8 mil pessoas.

Um dos motivos que explicam essa migração é o Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercosul, principalmente da Bolívia e do Chile e o acolhimento dos haitianos em função da concessão de vistos humanitários devido as seguidas crises que atingem o país.

 Sexo e regiões

 Apesar das ondas migratórias terem uma característica predominantemente de estrangeiros do sexo masculino, 66,7% (446 mil), a China vai na contramão e 51,2% das pessoas que vivem no Brasil são do sexo feminino. São 9,3 mil mulheres e 8,8 mil homens chineses.

As regiões Sul e Sudeste são as principais localidades de absorção de estrangeiros permanentes no país. O estado de São Paulo recebeu 45,2% do total dos migrantes, o Rio de Janeiro vem em segundo lugar com 9,1% e o Paraná em terceiro com 7,7% do total.

 Mercado de trabalho

 Outro ponto analisado pelo anuário é a situação de trabalho dos imigrantes que vivem no Brasil. De acordo com o levantamento da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), em 2016 o percentual de pessoas empregadas caiu 12,8% em relação a 2015, totalizando 112,6 mil vagas formais ocupadas. Foi a primeira queda desde 2010.

"A crise econômica causou uma queda no número de registros, principalmente no ano passado, agora mostra uma pequena recuperação, mas a gente precisa ver se isso vai continuar recuperando nos próximos anos", ponderou Leonardo Cavalcanti, coordenador científico do OBMigra.

Apenas os estrangeiros vindos de Angola, Senegal e Venezuela apresentaram aumento no registro total de vagas. A população haitiana continua como líder no número total com 25,7 mil empregados.

"Haitianos, Senegaleses e Bengaleses ocupam uma posição importantíssima no nosso mercado de trabalho. Os haitianos superaram, por exemplo, os portugueses, que é nossa configuração clássica de estrangeiros presentes no nosso mercado de trabalho", disse Cavalcanti.

Os estados de São Paulo (36%), Santa Catarina (12,5%), Paraná (12%) e Rio Grande do Sul (10%), são os que mais empregam no país. Do total de profissionais, 35% tem formação acadêmica equivalente ao Ensino Médio e 34% tem algum nível de formação superior, desse total, 5% são doutores. Apenas 1,5 mil pessoas são analfabetas, segundo a pesquisa.

 Em 2010, 41% da força de trabalho estrangeira no Brasil se concentrava entre diretores, gerentes e profissionais de ensino superior. Em 2016, 30% dos trabalhadores eram do setor de produção de bens e serviços industriais, 19% vendedores e 11% atuavam em cargos de chefia.

A evolução da remuneração segue a variação da qualificação dos empregados. Quase 50,8 mil (45%) recebiam salário entre R$ 800 e R$ 1.760. Já na outra ponta, 26% (29,3 mil) recebiam mais de R$ 4.400 por mês.

 Registro de imigrantes

 Segundo o Observatório das Migrações Internacionais, um problema para o anuário é a consolidação do número de estrangeiros que vivem no país pois não existe uma base unificada com os registros. Os Ministérios das Relações Exteriores, Justiça e do Trabalho dividem a responsabilidade contabilizar os números a partir de registros sociais que possuem, como o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), a Rais e o registro alfandegário, por exemplo.

"O trabalho de estimativa da população de estrangeiros é complicado. Teríamos que fazer uma amostra, mas isso é caríssimo. Além disso, o fluxo de pessoas é muito dinâmico", afirmou Cavalcanti.

Fonte G1 DF

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