No modelo atual, os estudantes pagam R$ 0,25 no café da manhã e R$ 1 nos almoços e jantares, enquanto a UFMT subsidia R$ 3,05 e R$ 10,05 respectivamente.
Estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) aprovaram uma greve-geral a partir desta quarta-feira (9) em razão do anúncio de implantação da nova “política de alimentação estudantil”. A paralisação, que se estenderá por tempo indeterminado, foi aprovada em assembleia-geral realizada na noite desta terça-feira (8).
A ideia anunciada pela reitora Myrian Serra é que a UFMT subsidie integralmente o pagamento das refeições servidas no Restaurante Universitário (RU) somente aos alunos de graduação com renda per capita familiar de até 1,5 salário mínimo e de 50% para estudantes de graduação presencial e pós-graduação.
Com isso, os estudantes que tiverem renda superior pagariam o valor de pouco mais de R$ 3 no café da manhã e R$ 11 nos almoços e jantares. No modelo atual, os estudantes pagam R$ 0,25 no café da manhã e R$ 1 nos almoços e jantares, enquanto a UFMT subsidia R$ 3,05 e R$ 10,05 respectivamente.
A possível mudança causou o descontentamento dos estudantes, que chegaram a acampar em alguns pontos da universidade, mas foram obrigados a deixar os locais por decisão do juiz federal Raphael Casella de Almeida Carvalho, no último dia 4.
O magistrado determinou a reintegração de posse no campus por entender que se tratava de uma ocupação irregular, com possível risco ao patrimônio público e dano social, em razão do suposto impedimento de ir e vir dos alunos e profissionais.
Por isso, os alunos passaram a se concentrar na ocupação dos blocos e agora aprovaram uma greve geral. Atualmente, 22 blocos estão ocupados pelos estudantes - e um total de 29 dos 30 cursos ofertados na UFMT estão inclinados a aderir à greve de acordo com o membro do Centro Acadêmico de História, Elton.
“Houve várias notícias de que a polícia poderia chegar à universidade logo cedo para realizar o despejo e isso nos deixou muito apreensivos e nervosos, de certa forma, pois ninguém quer levar bala de borracha por uma luta pelo R.U", disse ele ao justificar o motivo de terem optado por uma assembleia-geral do campus para votar juntos sobre a paralisação.
Com a deflagração da greve, a universidade ficará completamente paralisada, uma vez que muitos cursos já não funcionam em razão da ocupação dos blocos. “Paralisa-se tudo até que queiram discutir conosco sobre essas mudanças”, disse o estudante.
Além dessa discussão, os universitários também cobram a transparência nos contratos da UFMT junto à empresa Novo Sabor Refeições Coletivas, responsável pela oferta dos café da manhã, almoço e jantar no RU.
A empresa tem como um dos sócios o empresário Alan Ayoub Maluf, condenado por corrupção por ser um dos operadores do esquema de fraudes em diversas licitações na Secretaria Estadual de Educação (Seduc) que ocorreram em 2015 e foram alvos da Operaçãoo Rêmora.
O contrato da empresa Novo Sabor e a UFMT foi firmado em 2014 ao valor de pouco mais de R$ 7 milhões, com previsão de encerramento em 2016. Porém, teve sua vigência ampliada e foi aditivado, neste ano, ao valor de R$ 10,8 milhões.
“Estamos querendo transparência nos contratos da empresa que fornece uma alimentação de péssima qualidade a um valor absurdo. Todo esse dinheiro vem do nosso bolso, dos nossos impostos, daqueles que estudam na UFMT e daqueles que não estudam”, disse a estudante de Arquitetura e Urbanismo, Thais Vecchi.
Segundo ela, é preciso que a universidade dialogue com os estudantes, uma vez que os valores referentes ao serviço de alimentação já são considerados altos e, ainda assim, há uma tentativa da reitoria cobrar ainda mais.
“Estamos sendo roubados, a corrupção ocorre em todos setores e cantos do nosso país, precisamos fazer algo para garantir que o nosso dinheiro seja revertido em educação e alimentação de qualidade nas universidades públicas”.
Recuo - Em nota à imprensa, a reitora Myrian Serra afirmou que não vai implantar a nova política de alimentação até que sejam concluídos os trabalhos de uma comissão formada por estudantes, técnicos administrativos e docentes, que debate o assunto. Disse ainda que somente após isso irá dar continuidade às discussões e à elaboração de propostas de modo mais participativo.
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