Quase bati na cara do Wagner ali, agora.
Em gravação escondida feita pelo empresário Antônio Barbosa, irmão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), o deputado estadual Romoaldo Júnior (PMDB) aparece reclamando dos colegas parlamentares em meio à negociação de suposto pagamento de propina para a aprovação das contas do peemedebista na Assembleia, no final de 2015.
A conversa foi gravada por Antônio em 16 de dezembro daquele ano. A conversa foi realizada dentro de seu carro no estacionamento da Assembleia. Além de Antônio e Romoaldo, o filho do ex-governador, Rodrigo Barbosa, participou da conversa. A gravação foi entregue pelo empresário à Procuradoria Geral da República, como prova do acordo de colaboração premiada (delação) firmado por ele.
Na gravação de 54 minutos – divulgada pelo site VGNotícias -, Romoaldo tenta convencer Antônio e Rodrigo a cederem à pressão do deputado Wagner Ramos (PSD), que supostamente cobrava propina para a aprovação das contas do peemedebista. Na época, Silval estava há três meses no Centro de Custódia da Capital e Wagner era relator das contas do ex-gestor na Comissão de Fiscalização e Acompanhamento da Execução Orçamentária (CFAEO), que ainda era composta pelos deputados Zé Domingos Fraga (PSD) e Silvano Amaral (PMDB).
Em trechos da conversa, Romoaldo, assim como Antônio e Rodrigo reclamam que muitos deputados viraram as costas para Silval. O deputado peemedebista reclama especificamente de Wagner e Silvano. “Quase bati na cara do Wagner ali, agora. Chegou na frente do Wilson Santos e disse que não estava acertado comigo. Eu disse: ‘Como? Você vai fazer o relatório ou não vai?’”, diz Romoaldo.
Sobre Silvano, colega de partido, as críticas foram mais duras. Romoaldo reclama que Silvano não estaria firme em apoiar Silval e que chegou a cogitar votar pela reprovação das contas. “Estava com ele [Silvano] agora. Uma reunião de três horas. Ele me disse: 'voto com o relator’. Só que ele estava combinando com o Wagner de votar contra. Eu disse pro Wagner: ‘se ele fizer isso eu te mato. Perco a amizade com você’”.
Em outro trecho da conversa, Antônio fala que Silval ajudou muitos políticos, a exemplo de Wagner. No entanto, após a prisão de Silval na Operação Sodoma, o político foi abandonado. Romoaldo concorda e completa: “Tudo vagabundo”.
Conforme a delação de Antônio e Rodrigo, Wagner teria recebido R$ 250 mil para emitir parecer favorável à aprovação. Para Silvano e Zé Domingos, que presidia a comissão, teriam sido destinados R$ 200 mil.
Necessidade de aprovar
Durante toda a conversa, Antônio e Rodrigo se mostram relutantes e cogitam desistir de pagar o valor pela aprovação das contas. No entanto, Romoaldo aconselha a pagarem a propina e não “brincarem” com os parlamentares.
“Não é brincar. Quem está brincando não somos nós, Romoaldo. Você não sabe a corda que está estourando. Não sabe o jeito que ele está lá. A corda está esticada. Estou vendo ela arrebentar. Se ela arrebentar só depois a gente vai saber [o que vai acontecer]”, afirma Antônio.
Segundo Romoaldo, a aprovação das contas poderia ser usada como defesa de Silval nos processos de corrupção que começava a responder. Além disso, ele brinca, dizendo a Antônio que meses depois eles estariam bebendo “cachaça” e rindo de toda a situação.
“Se o MPE debruça em cima dela [contas de Governo], não vai dar paz por 90 anos. A conta dele aprovada é matéria de defesa. Tem que aprovar, cara [...] 300 conto que vocês vão gastar, vão economizar 5 milhões de advogados [sic]”, declara, Romoaldo.
Durante a conversa, o deputado fala para seu chefe de gabinete procurar Wagner e pedir para ele descer até o estacionamento, onde estava estacionado com Antônio e Rodrigo. Após cerca de 20 minutos, Wagner chega e eles chegam a um acordo para que o relatório seja favorável, em troca do pagamento de propina.
A conversa acaba, Wagner sai do carro e Antônio reclama com Romoaldo sobre o prazo que terá para levantar o valor pedido pelo deputado. Romoaldo afirma que se o pagamento for feito, ele consegue o apoio necessário em Plenário para aprovação. As contas de Silval foram aprovadas em 18 de dezembro de 2015, por 10 votos a sete.
Outro lado
O deputado Wagner Ramos, ao comentar as acusações, fala em grande armação e se diz inocente. Romoaldo, Zé Domingos e Silvano também negam terem negociado a aprovação das contas de Silval.
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