Dom Milton diz que solução existe e que resposta tem que ser dada nas urnas

“A corrupção existe em todos os países. Mas lá fora virou coisa de amador se comparado ao Brasil. Aqui estamos vendo uma nova profissão. Há o profissionalismo da corrupção, virou coisa de profissional”.
A avaliação é do arcebispo da arquidiocese de Cuiabá, Dom Milton Antônio dos Santos, que, em entrevista ao MidiaNews, falou um pouco sobre o cenário político no País e sobre a participação da Igreja Católico no debate em torno do assunto.
Aos 71 anos, Dom Milton diz que vê com "muita tristeza" a série de escândalos políticos expostos na imprensa diariamente.
Para ele, o atual cenário é fruto de problemas que vão desde a educação, passando pela ausência da religião na vida das pessoas. Além disso, cita que a corrupção envolve uma questão cultural.
“Vemos todo esse cenário de corrupção com tristeza. No Brasil, nós estamos atônitos com o que está ocorrendo. Esses casos são fruto de problemas na educação das pessoas. A gente percebe que há falhas. Além disso, há o chamado ‘jeitinho brasileiro’ de arrumar as coisas”, disse Dom Milton.
“Penso que uma coisa vai interferindo na outra. Aí entra também a religião, que é um elemento muito importante. A religião é o respeito para com cada pessoa. A gente percebe que falta isso hoje em dia. Mais do que isso, hoje as pessoas não têm sequer vergonha de serem desonestas. Há um desequilíbrio na natureza humana e isso é também uma consequência de as pessoas não acreditarem em Deus”, afirmou o religioso.
O arcebispo lembra que, a cada dia, há, por exemplo, novas operações sendo deflagradas pela polícia e delações premiadas revelam esquemas de desvios de dinheiro sempre envolvendo políticos.
“Isso nos apavora. Nunca sabemos o que está por acontecer. Cada dia um site, um jornal, pode trazer novidade. Saiu uma notícia pela manhã e a tarde já há desdobramentos, já está pior ainda”.
“Nacionalmente, por exemplo, a gente vê comentários de uma delação do ex-ministro Antônio Palocci. Estou aguardando o que Palocci vai dizer. Deve ser outra bomba. Aqui em Mato Grosso, confesso que não tenho acompanhado muito os casos. Mas a gente também vê fatos graves sendo expostos na mídia todos os dias”.
“Igreja é mal entendida”
Segundo Dom Milton, representantes da comunidade católica têm debatido muito sobre a corrupção.
Segundo ele, no entanto, os debates travados pela Igreja são “mal entendidos” e até menosprezados por integrantes da política no País.
“Ficamos atordoados com a corrupção. Fazemos assembleias dos bispos, fazemos análise de conjuntura... A gente está vendo o circo, fazemos manifestações pacíficas. Agora, até essas manifestações na imprensa, da própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, muitas vezes são mal entendidas. Os próprios católicos e políticos acham que nós deveríamos ficar dentro da Igreja rezando”, brinca o arcebispo.
Na avaliação dele, porém, a Igreja não pode se omitir. “Diria que isso [ficar apenas assistindo] não é religião. A religião leva a gente a transformar a vida, a mudar a História. Nós precisamos ajudar a transformar, a escrever a História”, disse.
“Resposta nas urnas”
O religioso disse também que tem esperança de que o País pode ser “passado a limpo”.
“Se tem algo que está na pessoa humana é a esperança. Não podemos perder a esperança. Mesmo que a gente sinta que o fundo do poço já chegou, diria que a gente não pode perder a esperança. A solução existe e a força está na união”, afirmou.
“As pessoas precisam levantar a voz, criticar, manifestar - não com quebradeira, manifestar com respeito. É preciso exercer nosso papel político”, disse Dom Milton.
Ainda segundo ele, o cidadão precisa não somente saber fazer suas escolhas no momento em que vai às urnas depositar seu voto em político, como também cobrá-los após a eleição.
“A resposta à corrupção que vem tomando conta do País, temos que dar é na urna eletrônica. Precisamos pensar nas nossas escolhas e, depois de qualquer tipo de eleição, temos que cobrar”, concluiu o religioso.
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